Prof. Dr. Márcio José Mendonça
No conflito em Gaza, combatentes, de ambos
os lados, estão agindo com o propósito de modelar o espaço urbano, para abrir
caminho para as operações militares e neste sentido israelenses e palestinos,
estão a transformar profundamente a realidade do campo de batalha, em diferentes
níveis e por meio de diferentes estratégias e tecnologias empregadas no espaço
urbano. Assim, para compreender e realizar uma avaliação criteriosa do que está
se passando no campo de batalha em Gaza, realizamos durante 100 dias uma
detalhada cobertura das operações em Gaza, analisando principalmente muito
material de vídeo, que estão circulando na internet, e por meios deles, interpretamos
e analisamos diferentes trajetórias e métodos de combate urbano, dos grupos em
disputa em Gaza, a partir de suas táticas e formas de organização do
território, baseadas em ações de modelagem do terreno e adaptação ao campo de
batalha.
Mas claro, a depender da situação de
atacante ou defensor, a cidade ou o espaço urbano, se assim preferimos, pode
ser um obstáculo a se transpor ou um recurso, um ativo, no campo de batalha.
Ao longo do conflito, durante 100 dias de
combate, verificamos como Israel empregou massivamente a destruição do espaço
urbano, por meio de bombardeios e condução de operações de infantaria, com uso
de blindados, na tentativa de desalojar a resistência palestina e inutilizar o seu
espaço urbano, usado como ativo de guerra. No entanto, diferente de outros
ataques em Gaza, os bombardeios aéreos foram muito mais intensos e prolongados,
ocorrendo em praticamente todos os dias do conflito, e as operações militares
por terra, dentro de Gaza, muito mais profundas, embora até o momento, apesar
de toda a destruição que suas ações provocaram, não tenham conseguido
apresentar evidências de destruição do Hamas e de qualquer outra facção de
Gaza. Já os insurgentes palestinos, incapazes de efetuar uma guerra prolongada
contra Israel em terreno aberto, procuraram atrair as forças israelenses para o
interior de Gaza e assim impor uma derrota militar aos invasores, por meio de
ações combinadas de guerrilha e guerra de atrito, que se baseiam em preparação
do terreno, com a elaboração de armadilhas e abrigos subterrâneos, os
conhecidos túneis, que estão sendo muito empregados em operações de ataque, na
retaguarda do inimigo, provocando muitas baixas as tropas israelenses.
Daí a pergunta, quem está vencendo a
guerra em Gaza? Israel, por meio do método do urbicídio, sem dúvida foi capaz
de provocar destruição da estrutura social e física no qual se apoia a vida da
sociedade palestina, forçando a expulsão da população e uma verdadeira
aniquilação de Gaza. Entretanto, em situação de conflito direto, corpo a corpo,
contra a resistência palestina, suas tropas estão sendo severamente fustigadas
em situação de conflito urbano. Muitos vídeos que circulam em grupos do
Telegram e em canais especializados na cobertura do conflito, não deixam
dúvida, que Israel está sofrendo com os ataques de lançadores de granadas portáteis,
uma arma de apoio de infantaria, que dispara projéteis de granada capazes de
nocautear blindados e tanques Merkavas, os quais, Israel, muito se orgulha de
ter desenvolvido. Vídeos de soldados israelenses sendo surpreendidos por
atiradores (snipers), armadilhas no interior dos túneis e dentro dos edifícios,
mas também, por explosivos improvisados ou minas, no campo de batalha, são
comuns na cobertura da guerra a todos que estão a acompanhar seriamente o
andamento do conflito.
Diferente de outras operações em Gaza ou na Cisjordânia, os soldados israelenses, pela primeira vez, estão expostos aos ataques de insurgentes palestinos, bem treinados e preparados para o conflito. Dessa vez, eles não estão a lutar contra palestinos desarmados e sem treinamento militar, como foi, por exemplo, no período das Intifadas e tantas outras vezes, e a sua presença, prolongada no campo de batalha, os torna alvos fáceis de guerrilheiros que conhecem o ambiente urbano de combate. Essa avaliação criteriosa, nos permite dizer, que o Hamas e os demais grupos palestinos, a considerar os 100 dias de conflito, estão vencendo o combate em matéria de conflito direto, embora os danos, em Gaza, sejam de uma ordem nunca praticada por Israel antes e as consequências a longo prazo, no território, desastrosas.
Filmagem de operação do Hamas, em que militante da facção, ao sair da abertura de um túnel subterrâneo, instala um dispositivo explosivo magnético na blindagem de um tanque israelense. Antes do explosivo ser detonado, o insurgente ainda realiza fuga para o interior do túnel, sem ser notado pelos soldados israelenses no campo de batalha.
Fonte:
canal do Telegram, 04/01/2024, data
de recebimento do vídeo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário