sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A ameaça dos drones

Prof. Dr. Márcio José Mendonça 

Drones já são uma realidade em emprego de meios civis e estão transformando profundamente o cenário da guerra moderna, ao influenciar o comportamento de combatentes e modelar o espaço físico e sensorial do campo de batalha. Tais equipamentos, ao projetar poder e violência a longas distâncias, são responsáveis por difundir medo e uma série de efeitos psicológicos em combatentes e na população civil, mais vulneráveis do que nunca, a ação desses novos dispositivos para fins de guerra e vigilância.

Embora o emprego de drones tenha sido comum na Faixa de Gaza, no Afeganistão e no Iraque, no período pós-11 de setembro da Guerra ao Terror, conduzido por uma série de operações militares e que culminou com a ocupação do Afeganistão e do Iraque. Nos últimos anos, é notável o aumento do uso de drones na Guerra “Civil” da Síria, na Guerra de Nagorno-Karabahk, entre Armênia e Azerbaijão, em 2020 e agora, ainda mais, na Guerra da Ucrânia e até mesmo no atual conflito na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, na região da Palestina como um todo.

A guerra dos drones já começou, isso porque os drones são um equipamento versátil e fácil de adaptar ao cenário de operações de um teatro de batalha, podendo executar uma série de funções, sejam de observação, reconhecimento e levantamento de informações ao ataque direto contra alvos no terreno e equipamentos militares ou posições inimigas, por meio de mísseis ou bombas de precisão. Além disso, são de fácil operação e podem ser montados rapidamente em poucos minutos, e atuar no cenário de guerra eletrônica para atrapalhar a comunicação do adversário e como retransmissor de sinal, repetindo as comunicações de rádio e de dados de estações distantes, permitindo correções dos alvos, em segundos, com alta precisão. É inquestionável que os drones chegaram para ficar e o seu o impacto, nos conflitos militares modernos, têm transformado o campo de batalha dos conflitos atuais.

Imagens de soldados na Guerra da Ucrânia desesperados, tentando atirar em drones sobre suas cabeças, fugindo a pé das aeronaves não tripuladas que os perseguem, importunam combatentes nas trincheiras ou de soldados que são filmados, em primeira pessoa, implorando para não serem mortas pelos drones, viralizam na internet e são comuns no combate moderno, na guerra das câmeras e registros audiovisuais.

Vídeos dos drones Bayraktar desde a guerra entre Armênia e Azerbaijão, destruindo veículos blindados, equipamentos de artilharia e massacrando tropas em solo, de forma totalmente desprotegidas e vulneráveis aos drones, fizeram muitos analistas militares acreditar que estavam vendo o aparecimento de uma arma de guerra, quase invencível no campo de batalha. Todavia, bastou os russos se adaptarem as características de ação dos Bayraktar e reconfigurado os seus radares, para que fossem capazes de exibirem alvos que, até então, eram automaticamente descartados. Hoje os russos já são capazes de abater muitos tipos de drones ainda em voo, mas isso não significa que os drones perderam sua utilidade, muito pelo contrário, tropas com menor cobertura de defesas antiaéreas continuam vulneráveis a sua ação no campo de batalha e os civis de modo geral, embora não sejam combatentes e necessariamente não estejam inseridos num campo de batalha, são cada vez com maior frequência, alvos da ação de drones.

Na Cisjordânia, por exemplo, imagens recentes mostram a ação de um drone israelense patrulhando a região de Hebron e enquanto sobrevoa sobre um agrupamento de palestinos, o drone por meio de seu alto-falante os ameaça: 


“Nós estamos os avisando: cuidado. E cuidado com seus filhos. Qualquer um que pensar em fazer algo: nós os encontraremos e, se necessário, o mataremos”.

E ainda na sequência do vídeo, um aldeão, apavorado, procura dialogar e pede para que o drone enviado por Israel, os deixe em paz: 

          “Nós não estamos fazendo nada. Nos deixem em paz”.



Drones israelenses ameaçam palestinos - Geopolítica Hoje no Instagram - Dezembro de 2023


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