Prof. Dr. Márcio José Mendonça
O
urbicídio como política de guerra contra o espaço urbano também pode ser
definido como uma medida de guerra contra o terrorismo, (incluindo o terror de
Estado em projetos coloniais), isto é, de antiterrorismo, conforme descrito nos
trabalhos de Stephen Graham e Derek Gregory. Esta tese baseia-se principalmente
na inseparabilidade da guerra, do terror, da aniquilação de lugares e do
urbanismo moderno, na perspectiva de um processo de colonização, em que as
cidades são percebidas, no imaginário geopolítico da elite política, como
lugares “caóticos” e “perigosos”, que precisam ser controlados e disciplinados,
seja pela guerra ou através de políticas de planejamento urbano nas cidades
colonizadas. Assim, o urbicídio é um produto ou elemento de conflitos armados,
guerras, ataques preventivos e campanhas antiterroristas.
Em todos os casos,
o urbicídio envolve a utilização de guerra, planejamento urbano militarizado e
discursos de “antiterrorismo” para atingir grupos rebeldes que lutam no espaço
urbano, contra colonialismo moderno. Por conta disso, o urbicídio pode
ser compreendido como uma ação de coordenação de estratégias militares para
destruir condições de resistência e independência. A atual campanha militar israelita
na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, na Palestina Ocupada como um tudo, é um
exemplo de como Israel usa da justificativa de combate ao “terrorismo palestino”
para atacar o espaço urbano e promover a limpeza étnica na região.
Graham, um dos especialistas no
assunto, argumenta que existem muitas estratégias israelenses que constituem
urbicídio. Isto ocorre por meio da demolição de casas e espaços urbanos, na
destruição intensiva de infraestruturas e no enfraquecimento sistemático da
urbanização e da modernização da sociedade palestiniana pela construção de assentamentos
judaicos, estradas secundárias e o Muro de Separação. Estas estratégias são
aplicadas para fragmentar e minar a contiguidade e a coerência do território
palestino e construir, em vez disso, um ambiente que maximize a capacidade das
forças de ocupação para inspecionar, cercar e controlar as terras e populações
ocupadas. Dessa maneira, podemos entender o urbicídio como uma estratégia de controle,
com muitos impactos destrutivos na estrutura física do meio ambiente urbano. Ainda
assim, é preciso distinguir algumas características gerais desse discurso,
aplicadas na Palestina ou em outros locais, onde observamos a destruição
sistemática do espaço urbano em conflitos armados.
Para isso, Nurhan Adujidi lista cinco características
do urbicídio que devem ser levados em consideração na análise de programas de índole
urbicida:
1
O cenário é sempre um ambiente urbano (construído) e habitado;
2
Há sempre danos e destruição generalizada ou total infligida a esse ambiente;
3
O local de destruição é demonizado ou desumanizado – antes de ser destruído;
4
A destruição é exercida para alcançar a reconfiguração e o controle espacial;
5
A destruição é sempre premeditada, intencional e planejada.
Faixa de Gaza
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