domingo, 21 de abril de 2024

O futuro dos drones militares no campo de batalha

Prof. Dr. Márcio José Mendonça

Em vez de drones gigantes que inicialmente funcionavam como bombardeiros avançados, a tendência a miniaturização dos drones no campo de batalha, demonstra que drones pequenos e especialmente os drones kamikazes descartáveis, pequenos e muito leves, mas que podem transportar granadas antitanque capazes de nocautear blindados pesados de muitas toneladas, são aqueles que estão fazendo maior diferença e mudando a realidade do campo de batalha na Ucrânia nos últimos meses.

Drones pequenos praticamente invisíveis aos radares e até mesmo aos soldados no terreno, embora extremamente eficientes, ainda não são automatizados e muito menos controlados por sistemas de inteligência artificial, sendo a sua operação no campo de batalha, conduzido basicamente por duas equipes. Uma responsável por observar o terreno e identificar potenciais alvos, usando para essa missão, drones leves e discretos, muitos deles aparelhos comerciais empregados para a localização e marcação de alvos em mapas digitais. Essa equipe de observação é incumbida de transmitir para a equipe de ataque os dados, que com base nas informações recebidas, escolherá o tipo de drone mais adequado para a missão.

Dessa forma, se a equipe de observação identificou um elevado número de veículos e blindados, a equipe de ataque, provavelmente, optará pelo uso de drones armados com explosivos com granadas RPG, mas se a equipe de observação marcou apenas a presença de soldados de infantaria ou deposito de munições no terreno, a equipe de ataque, talvez prefira empregar drones kamikazes armados com pequenas granadas ou então drones adaptados para o lançamento de múltiplas granadas antipessoais. Todavia, para ataques em maior profundidade ou em áreas mais dinâmicas da linha de frente, o convencional é utilizar drones repetidores de sinal e com autonomia de voo maior, responsáveis por repetir e reforçar o sinal de comunicação entre o operador e o drone de observação ou ataque. Graças ao uso de drones com repetidores de sinal, pequenos drones domésticos, de uso comercial, podem ser operados a até 10 km de distância de sua base de operação, já com drones maiores e mais caros, o alcance pode chegar perto de 20 km de distância do ponto de lançamento e controle.

Percebe-se, que embora eficientes e muito ágeis no campo de batalha, um fator a fazer a diferença na guerra, o emprego de drones no campo de batalha não é algo simples, e o seu uso demanda um efetivo significativo de soldados e operadores. Por isso, um dos principais desafios no momento no que tange o desenvolvimento de missões militares com drones, é automatizar ao máximo os procedimentos envolvidos na execução das operações. Como vimos até aqui, o processo de emprego de drones pequenos e com pequena autonomia, é todo manual e por isso um elevado número de soldados são despendidos nas missões. Assim, para reduzir o contingente e tornar as missões mais eficientes, estão sendo estudadas formas de automatizar alguns de seus procedimentos, que incluem ataques contra alvos humanos.

Hoje em dia, qualquer celular é capaz de identificar o contorno de um ser humano e de mapear as feições do rosto de uma pessoa. Portanto, em teoria, essa tecnologia pode ser facilmente aplicada aos drones militares. Uma das ideias nesse campo, envolve a marcação de alvos por um operador humano, que será responsável por identificar a figura humana como um alvo e a partir daí o drone de ataque ficará responsável pela execução da operação, agindo de forma autônoma na perseguição do alvo identificado até a conclusão da operação, com a eliminação do inimigo. Com a implementação dessa tecnologia, é possível reduzir significativamente o número de soldados empregados nas equipes de ataque, já que a maior parte do trabalho será realizada somente pela equipe de observação.

Outra técnica, ainda mais avançada, que futuramente pode ser implementada, envolve o lançamento de drones totalmente autônomos, com a missão de identificar figuras humanas de forma independente, atacando-os tão logo sejam identificadas. Nesse caso, o procedimento é feito sem a intervenção humana e o operador responsável apenas, por marcar em um mapa digital uma área no campo de batalha, onde há inimigos, lançando em seguida os drones programados para identifica-los e abatê-los naquela aérea específica marcada no mapa. Nesse último caso, as equipes de ataque não estão incluídas e as de observação são reduzidas ao mínimo do contingente. Além da redução de pessoal e economia de tempo, outra vantagem, é que esses drones possivelmente não serão afetados pelas defesas eletrônicas, já que não haverá link de dados para controlá-los.

Como vimos, o emprego de drones automatizados para fins militares, não se trata de uma ficção e alguns drones domésticos já funcionam com essa capacidade. Só que em vez de serem empregados com fins civis e pacíficos, como tirar fotos para um casamento, por exemplo, eles identificarão figuras humanas e seguirão seus alvos com o propósito de eliminá-los. Para o seu azar, quando esses sistemas estiverem em uso, soldados em terreno ficaram ainda mais expostos. Agora pense na aplicação desse método em uma grande metrópole do Sul Global, constituída por bairros inteiros com inúmeros becos e vielas, com drones caçando suspeitos de crime pelas ruas e entrando em casas sorrateiramente para prendê-los, enquanto do alto, esquadrões de drones policiais, monitoraram as atividades do excedente populacional, descartado pelo sistema, em favelas e espaços segregados. Sem dúvida, uma visão do apocalipse tecnológico do capitalismo em que drones se tornaram um componente tecnológico de segurança nacional, ligando campos de batalha no exterior (do antigo mundo colonial) a zonas fronteiriças e aos espaços urbanos das megacidades do Norte e do Sul Global, onde ninguém, aparentemente, será poupado.



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